Fazer de Portugal casa | Silvia Spicca

Fazer de Portugal casa | Silvia Spicca

A edição desta semana do Togetherness é dedicada aos estrangeiros que adoptaram Portugal como sua casa. O que os levou a tomar esta decisão que muda toda uma vida? Quais são os lados de luz e de sombra de Portugal? Quais as boas lições que Portugal pode ensinar aos seus países de origem? Descubra as respostas surpreendentes a estas questões. A casa é - definitivamente - onde vive o coração.

A edição desta semana do Togetherness é dedicada aos estrangeiros que adoptaram Portugal como sua casa. O que os levou a tomar esta decisão que muda toda uma vida? Quais são os lados de luz e de sombra de Portugal? Quais as boas lições que Portugal pode ensinar aos seus países de origem? Descubra as respostas surpreendentes a estas questões. A casa é - definitivamente - onde vive o coração.

Silvia Spicca
Responsável pela permacultura no Areias do Seixo Hotel

1. Há quanto tempo vive em Portugal?
Mudámo-nos para Portugal em Julho de 2018. Partimos no nosso pequeno Clio, com o nosso cão, uma máquina de fazer massa e uma vontade imensa de construir o nosso futuro.

2. Porque tomou a decisão de se mudar para Portugal?
A situação de emprego em Itália era complicada, não havia uma cultura de meritocracia e as oportunidades para os jovens eram escassas. Mesmo com distintos backgrounds educativos, o Luca e eu estávamos na mesma situação: contratos de curta duração, precariedade e pouca esperança. Pensámos que estaríamos melhor num novo país, tendo que aprender um novo idioma e toda uma nova cultura.
Houve uma coisa que Portugal nos impressionou logo de forma positiva: o sentido de comunidade da população. Nunca nos sentimos excluídos. Muito pelo contrário, foram os colegas e os vizinhos que nos ajudaram no processo de integração.
Outro aspecto que nos apaixonou em Portugal foi aquilo a que chamamos o ritmo humano: as pessoas arranjam sempre tempo para uma boa conversa. Não temos a sensação de estar permanentemente a correr, como em Itália: a correr para o trabalho de manhã; ritmos frenéticos que, na maioria das vezes não são particularmente produtivos no trabalho. E por último, mas não menos importante, outra das grandes qualidades de Portugal são os seus vinhos fantásticos !!

3. Quais são os lados de luz e de sombra de Portugal?
Se há nuvens negras aqui em Portugal, essas seriam do serviço nacional de saúde. Devido à pandemia, o frágil sistema entrou em colapso e debatemo-nos para conseguir obter um médico de família.

4. Que lições pode o seu país de origem aprender com Portugal?
Em Itália, as pessoas não vivem as suas vidas presentes. Estão sempre a viajar rumo a um futuro obscuro. Ao viver dessa forma, nunca conseguem aproveitar o que têm, porque querem sempre mais para justificar os sacrifícios.
É a cultura do acumular e da infelicidade. Portugal, por sua vez, tem-nos ensinado a estar presente e minimalista, vivendo em comunidade, o que fará despoletar o que é intrinsecamente solidário.
Em Itália, neste momento, prevalece o egoísmo.

5. O que é que Portugal pode aprender com o seu país de origem?
Não acreditamos que Itália, neste momento, tenha algo a ensinar a Portugal. É um tempo histórico complicado, em termos políticos, sociais e económicos. Na nossa opinião, Portugal deveria centrar a sua atenção e esforços em monitorizar a política do trabalho.
No nosso país, os interesses dos empresários sobrepõem-se aos direitos dos trabalhadores e às suas vidas, limitando a meritocracia e a estabilidade do povo.
O trabalho deveria ser uma relação equilibrada entre o empregador e o empregado.


6. O que é que a saudade lhe ensinou?

Sentimos a falta das nossas famílias e das amizades antigas que construímos ao longo dos anos. A tecnologia ajuda a reduzir a distância, mas o nosso filho está a crescer sem ter por perto figuras importantes como os avós ou os tios e isso é muito difícil para nós. No entanto, este sentimento pesado nunca nos levou a considerar nem por um segundo, que este não fosse o lugar certo para nós. Tivemos sorte, com um pouco de audácia à mistura, em encontrar um sítio fantástico, onde fazemos o que amamos e onde prevalece o sentimento de respeito mútuo.