As origens da procissão dos caracóis na aldeia de Reguengo do Fetal, próxima da Batalha, remontam ao século XIX e estão intimamente ligadas à devoção à Nossa Senhora do Fetal. Na verdade, esta devoção fortemente enraizada conduziu à criação de um santuário com o mesmo nome.
A imagem de Nossa Senhora do Fetal, uma escultura em pedra, datada do século XVII, é absolutamente crucial para perceber as peregrinações e a fé religiosa nesta santa.
De acordo com a lenda local, a devoção à Nossa Senhora do Fetal é devida a uma jovem pastora que estava a apascentar o seu gado e a chorar, pois estava faminta. A Nossa Senhora do Fetal apareceu-lhe e instou-a a que pedisse pão à sua mãe: "Diz-lhe que uma mulher te pediu para que vejas se há pão na arca". A arca que estava vazia ficou, como que por milagre, cheia de pão.
As procissões decorrem à noite, utilizando milhares de cascas de caracóis que são embebidos em azeite e torcidas com um fio que serve de pavio e que, uma vez acesas, dão um efeito visual único.
A primeira procissão, após a suspensão da iluminação pública, leva a imagem de Nossa Senhora do Fetal do santuário com o mesmo nome até à igreja paroquial. No sábado seguinte, a procissão repete-se, mas em sentido inverso.
A preparação dos milhares de cascas de caracóis utilizados nas procissões envolve o trabalho voluntário de cerca de 200 pessoas da aldeia de Reguengo do Fetal, desde crianças do jardim de infância a utentes do lar de idosos da aldeia. De salientar ainda o envolvimento dos emigrantes da freguesia, com forte presença nos Estados Unidos da América, que regressam à sua aldeia natal por altura das festividades e participam ativamente na decoração.
A utilização de cascas de caracol para iluminar as duas procissões envolve quantidades consideráveis de materiais e recursos, tais como 6.000 metros de pavio para queimar o óleo, 12.000 cascas de caracol completamente limpas e 500 litros de óleo para encher todas as cascas. As conchas de caracol ocupam parcelas de terreno, muros ou paredes, formando motivos ou palavras ligadas à vida da freguesia, da igreja e outros temas, ao longo de um percurso de cerca de 800 metros.
Em Janeiro de 2024, o Município da Batalha apresentou uma candidatura para a inclusão desta festa religiosa no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, com a colaboração da Junta de Freguesia de Reguengo do Fetal, da Comissão da Igreja Paroquial de Reguengo do Fetal e da comunidade desta freguesia e dos seus emigrantes. O processo de candidatura obedeceu a um criterioso formulário que esclarece a importância histórica, devocional e patrimonial desta manifestação religiosa, acompanhado de fontes escritas, orais, webgrafismo, fotografias, artigos e peças divulgadas na comunicação social, filmes, documentários e arquivos sonoros.